'Cena de guerra’: indígena Guarani Kaiowá fala sobre ataque armado que deixou morto em MS
Ataque ocorreu no fim da madrugada de domingo (16). Uma das lideranças da comunidade Pyelito Kuê, na Terra Indígena Iguatemipeguá I, em Iguatemi (MS), que p...
Ataque ocorreu no fim da madrugada de domingo (16). Uma das lideranças da comunidade Pyelito Kuê, na Terra Indígena Iguatemipeguá I, em Iguatemi (MS), que preferiu não ter o nome divulgado, relatou ao g1 que o ataque que terminou com a morte de um indígena no domingo (16) começou por volta das 4h da manhã. Segundo ela, cerca de 60 famílias foram surpreendidas com tiros “dos quatro cantos”, disparados por homens armados que seriam pistoleiros. Na ocasião, Vicente Fernandes Vilhalva Kaiowá, de 36 anos, foi morto com tiro na cabeça. ✅ Clique aqui para seguir o canal do g1 MS no WhatsApp Famílias assustadas com disparos Além da morte de Vicente, durante o ataque houve pânico entre os moradores da comunidade, tiros e incêndios. “No local há crianças com deficiência, mulheres desmaiaram de susto. O que aconteceu foi cena de guerra, parecia filme de terror. Queimaram nossos barracos, alimentos. Deixaram pessoas feridas gravemente”, afirmou. A liderança destaca que a área é reivindicada pelos Guarani e Kaiowá e já passou por estudos de identificação: “Fomos delimitados. A área já foi identificada e aprovada pelos estudos. Falta baixar a portaria.” Segundo ele, são mais de 16 anos de luta pela retomada do território. “Queremos poder cultivar, plantar, cuidar dos animais, trabalhar. Desde 2013 estamos isolados aqui. Mesmo no nosso território, não vivemos felizes. Temos nossa casa, mas não temos a chave. Não querem entregar a chave”, desabafa. Ele afirma que a Força Nacional acompanha a região desde 3 de novembro, mas não permanece no local o tempo todo. “Estamos aqui para tudo. Sabemos da sobrevivência dos povos. Estamos acostumados a viver assim. Nunca fomos ouvidos.” Indígena Vicente foi morto durante ataque em comunidade de Iguatemi (MS) Comunidade de Takoha Pyelito Kue Corpo de indígena morto chega à comunidade O corpo de Vicente Fernandes Vilhalva Kaiowá, de 36 anos, chegou à comunidade Pyelito Kuê durante a madrugada desta segunda-feira (17) e é velado desde o início da manhã. O indígena deixa esposa e dois filhos. Ele vivia no local havia pouco mais de um ano e trabalhava na roça para sustentar a família. Segundo Claudencia Solano Lopes, representante da comunidade e moradora há 17 anos, mais de 40 pessoas estavam na retomada. Dos 12 barracos que haviam sido montados, 10 foram incendiados após o ataque armado. Como foi o ataque De acordo com a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), cerca de 20 homens armados, vindos de uma fazenda próxima, cercaram a área e iniciaram uma sequência de tiros. Barracos foram destruídos e ao menos quatro pessoas ficaram feridas. Vicente foi atingido na cabeça e morreu ainda no local. O corpo passou pelo Instituto Médico Legal (IML) antes de ser liberado para a comunidade. A Funai informou que este foi o quarto ataque semelhante desde 3 de novembro, em meio a conflitos fundiários envolvendo retomadas Guarani e Kaiowá. O órgão contabiliza oito indígenas feridos nesses episódios recentes. A ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, afirmou que acompanha o caso e reforçou que os ataques ocorrem no contexto de defesa territorial, destacando a importância da demarcação para reduzir a violência. Um indígena foi preso em flagrante segundo a PF. O motivo da prisão ainda não foi especificada. Ações das autoridades Equipes da Força Nacional, Polícia Federal e Funai foram acionadas logo após os disparos. O Ministério da Justiça e Segurança Pública informou, em nota, que a Força Nacional mantém atuação contínua na região, com patrulhamento ostensivo para prevenir novos confrontos. A Força Nacional relatou que encontrou três vítimas ao chegar ao local — duas feridas e uma morta — e reforçou o patrulhamento. A Polícia Federal também investiga a morte de um trabalhador rural ocorrida no domingo na mesma região. A corporação afirma que não é possível afirmar relação entre os dois casos até o momento. O coordenador regional da Funai em Ponta Porã, Tonico Benites, disse nesta segunda-feira (17) que “não houve ataques hoje e os indígenas permanecem no local”. Veja vídeos de Mato Grosso do Sul: